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sábado, 2 de julho de 2022

Depois da Morte - Léon Denis

DEPOIS DA MORTE - Léon Denis – págs.: 57 á 61

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A GRÉCIA 3ª Parte Final

Toda a Grécia acreditava na intervenção dos espíritos nas coisas humanas. Sócrates tinha seu daïmon ou gênio familiar. Quando, em Maratona e em Salamina, os gregos armados rechaçavam a medonha invasão dos persas, eram exaltados pela convicção de que as potências invisíveis sustentavam seus esforços. Em Maratona, os atenienses acreditaram ter visto dois guerreiros, brilhantes de luz, combater nas suas fileiras. Dez anos mais tarde, a Pytia, sob a inspiração do espírito, indicou a Temístocles, do alto do seu tripé, os meios de salvar a Grécia.

Xerxes, vencedor, era a Ásia bárbara espalhando-se sobre a Hélade, abafando seu gênio criador, recuando dois mil anos, talvez, a eclosão do pensamento no seu ideal de beleza.

Os gregos, um punhado de homens, desafiaram o imenso exército dos asiáticos, e, conscientes do socorro oculto que os assistia, é a Pallas Atenas, divindade tutelar, símbolo do poder espiritual, que endereçavam suas homenagens, sobre o rochedo da Acrópole que emolduram o mar reluzente e as linhas grandiosas do Pentélico e de Hymette.

A participação nos mistérios contribuiu muito na difusão dessas ideias. Desenvolvia nos iniciados o sentimento do invisível, que, dali, sob formas alteradas, espalhava-se entre o povo. Pois, por toda a parte, na Grécia como no Egito e na Índia, os mistérios consistiam numa única coisa: o conhecimento do segredo da morte, a revelação das vidas sucessivas e a comunicação com o mundo oculto. Esses ensinos e essas práticas produziam nas almas impressões profundas. Davam-lhes uma paz, uma serenidade, uma força moral incomparáveis.

Sófocles chama os mistérios de “as esperanças da morte”, e Aristófanes escreveu que aqueles que deles tomavam conhecimento levaram uma vida mais santa e mais pura.

Recusava-se a admitir, ali, os conspiradores, os perjuros e os pervertidos.

Porfiro disse:
“Nossa alma deve estar, no momento da morte, como era durante os mistérios, quer dizer, isentos de paixão, de cólera, de desejo e de ódio”.

Plutarco afirma, nesses termos, quando se entretinha com as almas dos defuntos:
“Com frequência, espíritos excelentes intervinham nos mistérios, embora, às vezes, os perversos procurassem aí introduzir-se.”

Proclus acrescenta:
“Em todos os mistérios, os deuses (essa palavra significa, aqui, todas as ordens de espíritos) mostram muitas formas deles próprios, aparecem numa grande variedade de figuras e revestem a forma humana.”

A doutrina esotérica era um elo entre o filósofo e o sacerdote.

É isso que explica sua interpretação comum e o papel apagado do sacerdote na civilização helênica. Essa doutrina ensina aos homens a dominar suas paixões e a desenvolver, em si, a vontade e a intuição. Através de um treino gradual, os adeptos do grau superior chegavam a penetrar em certos segredos da Natureza, a dirigir, ao seu bom grado, as forças em ação no mundo, a produzir fenômenos, aparentemente sobrenaturais, mas que eram simplesmente a manifestação de leis físicas, desconheci das do vulgo.

Sócrates e, depois dele, Platão continuaram, na Ática, a obra de Pitágoras. Sócrates, querendo ter a liberdade de ensinar a todos as verdades que a razão lhe havia feito descobrir, não se fez jamais iniciar. Depois da sua morte, Platão passou pelo Egito e, aí, foi admitido nos mistérios. Ele voltou a entrar em contato com os pita góricos e fundou sua academia.

Mas sua qualidade de iniciado não lhe permitia mais falar livremente, e, nas suas obras, a grande doutrina aparecia um pouco velada. Entretanto, a teoria das migrações da alma e das reencarnações, a das relações entre os vivos e os mortos, encontram-se em Fedra, Fedon e Timeia:

“É certo que os vivos nascem dos mortos, e que as almas dos mortos renascem ainda.” (Fedra) Conhece-se, igualmente, a cena alegórica que Platão colocou no fim de a República. Um gênio toma sobre os joelhos de Parcas os destinos e as diversas condições humanas, e clama:
“Almas divinas! Voltem aos corpos mortais, vocês irão começar uma nova carreira. Aqui estão os destinos da vida.

Escolham livremente; a escolha é irrevogável. Se ela for má, não acusem Deus por isso.”

Essas crenças penetravam no mundo romano. Assim como Cícero no Sonho de Cipião (cap. III), Ovídio fala delas nas suas Metamorfoses (cap. XV). No sexto livro de a Eneida, de Virgílio, Enéas reencontra seu pai Anchise nos Campos Elíseos e aprende com ele a lei dos renascimentos.

Todos os grandes autores latinos dizem que gênios familiares assistem e inspiram os homens de talento.33 Lucano, Tácito, Apulée, assim como o grego Filostrato, falam frequentemente, nas suas obras, de sonhos, de aparições e de evocações dos mortos.

Em resumo, a doutrina secreta, mãe das religiões e das filosofias, reveste-se com aparências diversas no decorrer das idades, mas em toda parte a base permanece imutável.

Nascida na Índia e no Egito, ela passa daí para o Ocidente com a onda das migrações. Nós a encontraremos em todos os países ocupados pelos celtas. Escondida na Grécia nos mistérios, revela-se no ensino dos sacerdotes tais como Pitágoras e Platão, sob formas cheias de sedução e de poesia.

Os mitos pagãos são como um véu dourado que dispõe nas suas pregas as linhas puras da sabedoria délfica. A escola de Alexandria daí recolhe os princípios e os infunde no sangue jovem e impetuoso do Cristianismo.

O Evangelho já tinha sido iluminado pela ciência esotérica dos essênios, outro ramo dos iniciados. A palavra do Cristo tinha haurido nessa fonte, como uma água viva e inesgotável, suas imagens variadas e seus arrebatamentos poderosos. Assim, por toda parte, através da sucessão dos tempos e as agitações dos povos, afirmam a existência e a perpetuidade de um ensino secreto, que se encontra, idêntico, no fundo de todas as grandes concepções religiosas ou filosóficas. Os sábios, os pensadores e os profetas dos tempos e dos países mais diversos encontraram, nele, a inspiração, a energia que faz efetuarem-se grandes coisas e transforma almas e sociedades empurrando-as para adiante na via da evolução progressiva.

Há, nele, uma grande corrente espiritual que se desenvolve nas profundezas da História. Parece sair desse mundo invisível que nos domina, nos envolve, e onde vivem e agem ainda os espíritos de gênio que serviram de guias à Humanidade e nunca cessaram de se comunicar com ela.

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